GERAL
Treino de um polvo gigante do Pacífico a entrar em uma cesta para vàrios controlos
Meu nome é Melanie Johnson, sou aquarista sênior de peixes e invertebrados no Georgia Aquarium em Atlanta. Cresci em um lugar onde seria impossivel de pensar que um aspirante a biólogo marinho criaria raízes: Phoenix, Arizona (pense no lugar mais quente da Terra, provavelmente é um pouco mais quente do que isso... provavelmente).
A minha vida e carreira tem sido um pouco diferente de muitas vidas “normais”. Passei 6 anos como policia militar na Guarda Nacional do Exército dos EUA e, em 2015, após acabar o serviço, consegui um emprego de part-time como educadora para um pequeno aquário público. Como muitas pessoas provavelmente sabem , há uma certa “fascinação calmante” que os animais oceânicos trazem, e rapidamente fiquei encantada ao aprender tudo sobre eles.
Os invertebrados marinhos capturaram especialmente o meu interesse, pois pareciam existir nesses mundos minúsculos e obscuros que eram tão fáceis de ignorar, mas tão complicados em seus próprios comportamentos dinâmicos.
Um dos invertebrados que rapidamente capturou o meu interesse pela sua natureza carismática é o polvo gigante do pacífico (GPO). Cefalópodes (que consistem em lulas, chocos, polvos e náutilus) - são notoriamente distinguidos como um grupo carismático de animais que mostram comportamentos adaptativos avançados e geralmente estranhos e uma curiosidade incomum por um molusco / invertebrado. Os polvos gigantes do pacífico são a maior espécie de polvo e, como um animal sem armadura protetora e rico em proteínas e nutrientes saborosos, tiveram que desenvolver algumas habilidades de observação extraordinárias para “superar” qualquer predador. Trabalhei com 7 GPOs em vários estágios de seus ciclos de vida, e cada um deles me ensinou um pouco mais sobre as complexidades da sua inteligência.
Cor/Texturizações para referência.
Nota: Os indivíduos podem apresentar comportamentos únicos e as observações são baseadas puramente nos polvos com quem trabalhei pessoalmente.
Sob cuidados humanos, os aquários públicos tendem a direcionar o enriquecimento e treino animal para dois assuntos: encorajar comportamentos naturais que um animal exibiria ao longo da sua vida e condicionar para diminuir o stress durante procedimentos médicos necessários. Com os polvos, uma das melhores maneiras de proporcionar uma bom manejo é condicioná-los ao “Treino da Cesta”.
Em termos simples, pedimos ao polvo para entrar voluntariamente em um espaço fechado, reforçando a atividade com todas as coisas que os polvos mais amam: brinquedos, comida e diversão! Dessa forma, se eles precisarem de ser transportados, examinados pela equipa médica ou fazer uma recolha de dados morfométricos para monitorar o crescimento e a dieta - o processo torna-se exponencialmente menos assustador (porque tentar forçar um polvo a fazer praticamente qualquer coisa é quase impossível ... porque è forte e inteligente).
Manchas grandes e lisas de cor geralmente indicam grande interesse pela atividade ou brinquedo. Penso nas manchas de cor como uma “pequena tentativa de camuflagem”, enquanto a maior parte da atenção está voltada para uma atividade interessante.
Como todos os animais, antes de iniciar qualquer treino ou enriquecimento, passo tempo “conhecendo” o indivíduo, o que me permite fazer aproximações sobre o seu comportamento. Muitos animais exigem uma abordagem personalizada para o treino, porque, assim como nós, cada indivíduo é único. Quanto mais aprendemos sobre eles, mais podemos prepará-los para o sucesso, e acho que é importante ter sempre em mente este conceito. Ao trabalhar com um animal que não é vocal e calmo, prestar atenção especial em como eles comunicam conosco , e a maneira como os polvos fazem isso é simplesmente magnífica. Por meio de minúsculas células que mudam de cor (cromatóforos) e fibras de flexão muscular (papilas), eles podem comunicar complexidades emocionais por meio de movimentos, mudança de cor e texturas da pele. E ter este contato direto com eles abre uma porta para uma “folha de referência” no processo cognitivo, simplesmente observando os comportamentos de cor/textura desse indivíduo.
Compreendendo a disposição do indivíduo, podemos formular novos objetivos de treino para o polvo com base no seu conforto e vontade de aprender. Para abituar o polvo à cesta costumo passar várias sessões a frente do seu aquario para dessensibiliza-lo para a nova (grande e assustadora!) coisa , para reforçar a sua curiosidade ou tolerância com comida ou um brinquedo. A maioria dos polvos são naturalmente curiosos e, se forem especialmente corajosos e vierem investigar a cesta, reforço a curiosidade com um jackpot!
Vermelhos suaves e profundos são um sinal de conforto e emoção. Um GPO geralmente fica vermelho profundo antes de saltar para a superfície, indicando que eles estão ansiosos para se envolver com você.
Esses processos exigem muita consistência, tempo e paciência - mas, em troca, reforçam um vínculo de confiança entre o polvo e o treinador. Isto faz com que eles sejam mais resilientes às mudanças ao longo de seu ciclo de vida. No treino de animais, usamos uma expressão conhecida como “banco de confiança”, o que significa que desde que você faça “depósitos positivos” 95% das vezes, os 5% que retiramos do banco terão um impacto mínimo na confiança e bem-estar do animal.
Não ter espinha dorsal ou exoesqueleto tem as suas vantagens para um polvo! Estes animais ADORAM espremer-se em espaços pequenos e, portanto, colocá-los num contêiner ou cesta de transporte não é muito stressante para este cefalópode se foi condicionou positivamente. Descobri que alguns dos polvos com quem trabalho preferem ficar numa cesta, e muitas vezes levam estas cestas para os proprios aquarios mesmo após o fim da sessão de treino.
Manchas finas e texturas exageradas são um sinal de incerteza/cautela e camuflagem ativa caso haja perigo. Ao exibir esse comportamento, geralmente faço uma pausa na sessão para permitir que o polvo fique mais confortável.
A fase final no treino da cesta é ser capaz de levantar a cesta e o polvo completamente para fora da água, permitindo que a equipa de cuidados com os animais realize transportes e o peso do animal. Se fizemos tudo certo até este ponto, o GPO ficará como um paciente à espera no fundo da cesta até que esta volta para a àgua novamente. Gostaria de acrescentar que, embora eu sempre aconselhe a não tirar os peixes da água (prejudica as suas brânquias sensíveis), os polvos são especialmente evoluídos para tolerar breves períodos fora da água enquanto caçam presas em poças de maré. É um exemplo clássico que entender a história natural dos animais que cuidamos é absolutamente essencial para boas práticas de bem-estar animal.
A natureza de um polvo (que - devo lembrar - não tem defesas naturais, exceto observaçao do ambiente , tinta e camuflagem) é comportar-se de forma inesperada e ser mais esperto que todos. Portanto, compreensivelmente, nenhum plano de treino vai correr como planeado. Trabalhar com animais selvagens significa que devemos sempre estar preparados para o inesperado, mas um bom treinador sabe como fazer um plano para se evitar este problema! E da mesma forma que o Hawaiian Day Octopus forma um grupo de trabalho com o Manybar Goatfish - os polvos aprenderão rapidamente que os treinadores estão a trabalhar para o mesmo e isto faz com que eles fiquem dispostos a colaborar. Esta è uma das muitas razões pelas quais o polvo gigante do Pacífico sempre terá um lugar especial no meu coração.
Octopus reivindicou a cesta após o término da sessão de treino e leva todos os brinquedos para a nova “casa”.
Um grande obrigado ao WeZooit por permitir compartilhar um instantâneo do mundo obscuro do treino de polvos e por permitir que cientistas e admiradores inspirem a adoração, admiração e preservação do nosso mundo natural.
Melanie Johnson
The Professional Octopus Cuddler