PÁSSAROS
Treino com uma Cacatua para o uso de um colar Isabelino
Holly Garson é uma treinadora de animais exóticos no Flamingoland Zoo (Inglaterra). A empresa para a qual trabalha, APAB Ltd, é a responsável pelas demonstrações de aves e leões marinhos neste Zoo . Começou aos quatorze anos com um contrato para trabalhar aos fins de semana e dezenove anos depois é a diretora da coleção de aves.
É licenciada em gestão animal e em zoologia aquática com um mestrado em investigação sobre selecção de alimentos e comportamento dos Colobus angolanos na floresta de Magombera (Tanzânia), tal foi possível graças ao projecto Forest Udzungwa (UFP) financiado pela Flamingoland.
Neste artigo mostrará como o treino diário de comportamentos cooperativos com diferentes espécies leva a excelentes resultados. Neste caso particular, o treino de uma colar Isabelino com Darcy, uma cacatua Molucca (Cacatua moluccensis).
Introdução
No início deste ano, o meu papagaio Peewee, uma amazona de fronte vermelha (Amazona autumnalis), desenvolveu uma protuberância na perna por causa de um fungo que precisava de ser removido. Após a cirurgia, Peewee teve que colocar uma proteçao na ferida mas começou a arrancarla.
A veterinária do zoológico, Gemma Graham, decidiu que era necessário que Peewee usasse um colar de proteção para evitar qualquer dano adicional que pudesse ser feito além da remoção da proteçao que cobria o ferimento.
Já que Peewee nunca teve qualquer experiência em usar um colar, às vezes mostrava um comportamento de frustaçao quando tinha o colar à volta do pescoço. Sempre que possível, tinha algum tempo livre sem o colar mas era sempre supervisionado, no entanto precisava de ter o colar na maior parte do dia. A dificuldade de colocá-lo e tirá-lo imediatamente fez-me pensar que teria que treinar todas as aves da nossa coleçao para num futuro sermos preparados para um comportamento cooperativo semelhante. Em quase vinte anos de trabalho com aves, porém, tinha pouco conhecimento sobre esse tipo de cirurgia e os tratamentos necessarios!
Quando Peewee estava totalmente recuperado, decidi treinar este comportamento com Darcy, uma cacatua Molucana, primeiro tivemos que treinar que ele aceita-se voluntariamente a coleira à volta do pescoço . Além disso, preparei um plano de treino para que o Peewee colabora-se no tratamento do F10 (um poderoso germicida contra bactérias, fungos, vírus ...) na palma das suas patas. Depois de meses trabalhando com Peewee, jà levanta voluntariamente as patas para poder passar a pomada enquanto o pesamos todas as manhãs.
Treino voluntário do colar Isabelino com uma cacatua molucana
Voltando ao trabalho feito com a coleira de proteção, comecei a treinar Darcy para aceitar a coleira. Apresentei-lhe diferentes materiais e objetos em forma de colar. Esta espécie de cacatua pode ser muito consistente segurando todos os materiais e colares com as pernas. Cada vez que colocava a coleira na cabeça ou no pescoço, ele tirava e empurrava com a pata. Para encorajar Darcy a permanecer na posição enquanto o objeto se aproximava, decidi usar um traget . Portanto, antes de treinar a coleira, tive que trabalhar na duração do target. Usar o target acabou sendo um sucesso! Todo o staff usou diferentes objetos à volta do pescoço de Darcy sem que ele mostrasse qualquer aversão. Foi então que incentivei o staff a colocar uma coleira de proteção com um fecho de velcro de diferentes maneiras, ângulos, mais rápido ou mais. devagar, etc. . Para aumentar sua confiança durante o procedimento.
Pela pesquisa que fiz, vi que havia uma grande variedade de tipos diferentes de coleiras de pássaros, principalmente em papagaios, então decidi praticar com dois estilos diferentes de coleiras para trabalhar mais na dessensibilização.
Após um breve período de treino com o traget , Darcy percebeu que precisava ficar quieta e manter as patas baixas sem remover a coleira. Foi então que o target foi tirado e concentramo-nos mais em como usar o colar, a duração, mudamos de maneiras diferentes, viramos, etc.
Assim que Darcy se sentiu confortável com a coleira de velcro, acrescentei uma coleira de papelão, para ensiná-lo a enfiar a cabeça no orifício da coleira, visto que muitas coleiras protetoras de papagaios são projetadas desta maneira. Este era o padrão do colar de Peewee que permitiu a Darcy ganhar confiança com o colar sendo repetidamente removido da sua cabeça. A princípio utilizei de novo o target , mas passadas duas sessões não foi necessário utilizá-lo de novo.
Este treino permitiu-me adaptar-me a diferentes métodos para me adaptar ao animal como indivíduo e sentir sempre que mesmo que não tivesse planeado ou antecipado a necessidade de usar o target ao longo do processo de treino, esta é sempre uma ferramenta muito útil. O objetivo agora é treinar este comportamento com outro indivíduo que não é muito capaz de usar as duas pernas como a cacatua Moluca. O plano é treinar todas as nossas aves a aceitar voluntariamente uma coleira, começando com o resto da coleção de papagaios.
Planos futuros de treino cooperativo
O plano que tenho para todas as aves do departamento, independentemente das espécies e habilidades, é treinar vários comportamentos médicos. Atualmente, temos papagaios que aceitam medicação oral com seringa. Peewee, a minha amazona, põe a cabeça dentro de um frasco de plástico para uma possível anestesia, deixa voluntariamente cortar as unhas, abre as asas deixar controlar as penas. Uma espécie de pernas vermelhas (Cariama cristata) faz pèdiluvios numa bacia com clorexidina e F10 (ainda temos que insistir neste treino, mas estamos na direção certa). Este processo criou muitas outras ideias e motivou-nos para treinar novos comportmentos com as nossas aves marinhas e leões marinhos.
Para acabar , gostaria de agradecer a todo o staff pelo trabalho árduo, Darcy ,pela enorme paciência e aos colegas de WeZooit por dar a oportunidade compartilhar o nosso trabalho.
E lembre-se, se se pode ... WeZooit!
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